O restaurante italiano, meu primeiro emprego em Tübingen, ficava colado na república onde eu morava. Super prático! Trabalhava em torno de 10/11 horas por dia, sem folga, das 10h00 às 14h00, e das 17h00 às 24h00, aproximadamente. Voltava pra casa morta.
Tinha direito a almoçar e jantar lá sem pagar. Meu medo de passar fome era tão grande, que eu almoçava e jantava massa, sempre acompanhada de um pedaço de pão! Uma enxurrada de carboidratos! Não me importava. O que eu queria é ter bastante reserva pra aguentar um período difícil que pudesse eventualmente vir, sem morrer de fome. Neuras …
Trabalhei na cozinha do restaurante. Ser garçonete ainda estava bem longe das minhas possibilidades linguísticas. Cozinhar, nem pensar! Lavava louça (pouca, pois o lava-louça dava conta do recado) e muitas, muitas, mas muitas panelas mesmo. Panelas enormes, pesadas, encardidas. Frigideiras também. Ficava com o corpo doído de carregá-las, as unhas viviam pretas. Nada fácil.
O dono do restaurante era italiano, os garçons também. Na cozinha ficavam cinco homens trabalhando e eu. Dos cinco, quatro eram imigrantes italianos e um paquistanês. “Ah, quatro italianos!”, alguém pode estar pensando e suspirando … quatro italianos sim, imigrantes, homens muito simples, brutos, muito machistas. Nada de morenos altos, perfumados, charmosos, galantes, educados e gentis!
Era difícil entender o que eles diziam, pois o sotaque era forte, além do que, eu não estava acostumada com o palavreado desse ambiente de trabalho. Parecia uma outra língua! Era preciso muita mímica pra gente se entender.
Foram duas semanas trabalhando nesse restaurante. Nesse meio tempo conheci alguns brasileiros que me ajudaram a encontrar algo melhor, pois percebi, conversando com eles, que ganhava muito mal e que eu tinha direito a um dia de folga, que eles não me davam. O segundo emprego era bem melhor, porém, como nada é perfeito … vou contar, pode deixar.